CARTA ABERTA Nº 04
- carta de tia Neiva
- 26 de set. de 2017
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Meu filho Jaguar, Salve Deus! Esta carta tem um sentido mais profundo de amor, porque tudo começou de maneira mais original que já senti, vi, e ouvi; em toda minha vida. Deus fez o homem para viver cem anos neste mundo e ser feliz no livre arbítrio, onde ninguém é de ninguém, na liberdade total da alma que aspira nas afinidades do sentimentalismo;onde o sol e a lua, a chuva e o vento, tão distintamente, controlados afetam. Assumimos o compromisso de uma encarnação, e juntos partimos, não só pelas dívidas em reajuste, como também, pelos prazeres que este planeta nos oferece, sim estando no espaço,devendo na Terra, sentimos desolados e inseguros, porque estamos ligados pelas vibrações contraídas. E neste exemplo, Jesus nos afirma, que só reajustamos por amor. Tudo começou assim: Viajava para uma estação de águas, na velocidade do carro, uma linda mulher, marcando mais ou menos dois anos de desencarnada, emparelhou ao meu lado e como se estivéssemos parados começou a contar sua vida que muito me impressionou pela maneira natural. Morava na cidadezinha por onde eu passara, e que amava perdidamente o seu esposo Antonê, era como ela o chamava. Porém, perdi a segurança e comecei sofrer e fazê-lo sofrer, inimizei-me com toda a família, passei a viver num suspense terrível se saímos para uma festa, e ele estivesse alegre e feliz, eu começava a me torturar e acabava por manifestar qualquer mal, contanto que ele se sentisse infeliz e, estando triste eu começava também às minhas suspeitas. Olha! Como martirizei a vida do meu pobre Antonê. Sim, de toda sua família, não tive filhos, porque me separariam, não me dariam tempo de correr atrás do meu marido. Pensava nos conselhos de minha sogra, conselhos tão queridos que me davam mais suspeitas, até que rompi com toda família. Então Antonê começou a mentir-me. Um dia o vi conversando com uma moça que havia sido sua namorada. Fiz um escândalo terrível. Porém desta vez ele permaneceu numa atitude afirmativa, e eu tive medo, depois ele disse num tom firme: - De hoje em diante, irei todos os dias na casa de minha mãezinha que você destruiu. Você não me impedirá. Sim, foi como se o mundo tivesse rodado para mim, parecia um outro homem. A sua personalidade que eu não conhecia, desde então, fui perdendo o controle, já agora senti imenso o que havia perdido, toda minha arrogância, sem recursos para lutar. Pois, só temos forças quando estamos na Lei de Auxílio, amando ou por missão, porém, não como eu odiando;comecei a sentir saudades do que havia perdido, chegava perto dele e, apesar de sua tristeza, ele sempre me correspondia. Pensei ter um filho, pois, era o seu ideal, fomos ao médico, este, um velho conhecido, disse com a intimidade que tínhamos, que um filho não encomendamos quando queremos e, disse mais, pela minha expansão, falta de controle, eu havia me descontrolado e precisava de tratamento e religião. Saí dali pensando como recuperar o que estava perdido. Propus pedir perdão à minha sogra, porém, ele advertiu-me que minhas cunhadas ainda estavam sentidas demais comigo, não deveria então, chegar até lá. Fiquei isolada, porém, ele sempre meigo, cavalheiro comigo. Realmente me amava. Tínhamos uma fazenda perto dali, e ele todos os dias ia trabalhar sem a minha vigilância. Dois anos que eu já havia me moderado, Antonê veio me pedir uma assinatura pra vender uma fazenda. Fazenda? Eu não a conheço, como você comprou, sem me dizer nada? Quem é que mora lá?Quem são as pessoas?
- Meu Deus! Não há ninguém, afirmava ele! Vou lá antes de você vender.
-Não! Chega, disse ele, não suporto mais e, quer saber? Não quero mais sua assinatura, e foi saindo. Antenor, o nosso vaqueiro, contou tudo que estava se passando: -Emília, a professora e ex-namorada do meu marido, estava lecionando numa fazenda vizinha, mas, ela não é amante dele. Eles apenas se queixaram de suas infelicidades. Por que se dirige a mim, D. Célia? Eu já vi o Sr. Antonê sair daqui, chorando muitas vezes, dizendo: se eu não amasse tanto a Célia, um dia sairia daqui e não voltaria mais. - Chega, gritei! Não quero mais ouvir. Antenor foi embora, saí correndo até a casa da minha sogra, porém, Deus não deixou que eu o fizesse sofrer mais, uma caminhonete me atropelou, levaram-me para o hospital onde vim a falecer. Não falava, porém, via todos: minha sogra, meu marido e algumas cunhadas. Meu marido chorava com resignação, o padre veio e deu-me a extrema-unção e foi só o que me lembrei. E por muitos anos comecei a vagar, sempre me lembrando das palavras da extremaunção"ressuscitar os mortos", então, tinha medo de me afastar do cemitério e perder a oportunidade, não me encontrei com nenhum morto que fosse meu conhecido, apenas um ÍNDIO,insistindo para que eu deixasse meu marido, enfim, que eu abandonasse o meu mundo, aquela cidade onde era tudo para mim, onde eu ainda tinha esperanças. Todos os dias pela madrugada, um silvo muito grande nos despertava e eu ficava na expectativa da ressurreição. Como seria se eu não conhecia nada que pudesse acreditar? Porém, a minha mente, já estava tão habituada a crer nas minhas calúnias, naturalmente, foi o fenômeno habitual. Este silvo vinha de um lindo homem vestido de centurião romano, acompanhado de uma linda mulher, também romana. Diziam coisas lindas, levavam as pessoas com eles, porém,somente eu não me convencia. Um dia, chegou um enterro. Pensei! Quem seria?Sete dias depois do enterro, chegou Lazinha, uma mulher que se havia perdido, e sempre estava presente.Nós nos vimos, e eu quis fugir como sempre, ela porém, falou:
-Célia, aqui também? Este é o mundo que não pode existir orgulho, e com o mesmo cinismo, desafiava-me com o olhar. Novamente começou a contar o que havia sucedido: Antonê viajou, Inácio seu cunhado, quase matou Zeca, chofer da Caminhonete que mataria depois, arrematando, sabe; eu vou embora daqui.Sim, uma coisa muito falada na cidade, ninguém veio no seu enterro "sem pensar" no entanto no de Lazinha, foi tanta gente! Ah! disse: Graças a Deus, nunca infernei a vida de ninguém, nem nunca levantei calúnia a ninguém, nem mesmo condenei Fulgêncio, que me desonrou. Meus pais puseram-me para fora da Fazenda. Sofri, porém não condenei ninguém, hoje estão arrependidos e eu saí bem com todos, agora vou-me embora. -Para onde? Perguntei. Nisso um índio que se dizia chamar Tucuruy, foi levando-a pela mão. Comecei a gritar:
-Ressurreição! Ressurreição!... Não a ressurreição, não para mim, uma cínica como eu. Oh meu Deus, como pode viver acusando e caluniando as pessoas, o que fiz!... Nisto vi ao longe lá na minha sepultura, Emília e Antonê ajoelhados, colocando uma rosa vermelha na sepultura, dizendo algumas palavras. Fiquei onde estava e, pela primeira vez, senti aliviada. Emília, a quem tanto caluniei, agora estava feliz. Logo que saíram, corri para lá e abracei a minha rosa, a última esperança na Terra, pedindo a Deus por Emília e Antonê. Nada me levaria a ressurreição, esta rosa é minha última esperança de um perdão, se Emília perdoa-me, todo mundo me perdoará. Fiquei ali extasiada não sei por quanto tempo, até que Tucuruy, o mesmo índio que levou Lazinha, me entregou a senhora, Tia Neiva. Meus filhos, eu então lembrei-me do que ensino: A MINHA MISSÃO É O MEU SACERDÓCIO. Mesmo naquela viagem de estação de águas, eu sou a mesma Sacerdotisa dos Templos. Encaminhei-a com amor. E com o mesmo amor que entreguei meus olhos, que somente Jesus é testemunha se por vaidade eu me afastar um dia. Carinhosamente, a Mãe em Cristo,
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TIA NEIVA Vale do Amanhecer, 09/10/77
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